Loucura congelada
Quanto mais nos trancam, tanto mais congelamos
nossa loucura. Dentro de nós um Ártico oceano. Fora de nós um Antártico
continente. E é inverno. Mas existe vida. Embora imobilizada sob os braços
cristalinos do gelo.
Posso fechar os olhos. Afinal abri-los para paredes
nuas e depiladas em nada excita. Bem poderia passar por aqui uma barata. Tal
aquela que em tão profunda alucinação empurrou Clarice Lispector. Entretanto
não há outro excesso senão o do asseamento.
Falta-me a mesa e a cadeira onde possa colocar-me e
trabalhar. Que inveja dos homens que viveram em um quarto. E nele levantaram a
tenda de uma casa inteira. Lembro-me do quadro onde Van Gogh representou seu
quarto. Fosse o pintou ainda vivo e eu jamais lhe proporia por meu quarto num
quadro. Pois tudo está fora dele. Até mesmo minha tristeza.
Falta-me coragem para declarar a dor que sinto
diariamente nas costas. Mesmo assim, sorrindo, bato às portas apresentando-me
esse escritor. Mas o chefe, sempre em reunião, não me pode receber. Trancam-me.
E eu mal posso mostrar a crônica que acabei de escrever num guardanapo.
Contenho-me. Agradeço. Sorrio. Congelo minha loucura.
Entra um vento por debaixo da porta. Não derruba
nada. Por isso sobra. Depois morre duro. Igual. E inexpressivo tal qual a
loucura que ainda não degelou.
Rafael Alvarenga
Niterói, 02 de novembro de 2012
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