Jogadores de xadrez
Quando me aproximei eles já disputavam. O tabuleiro
armado. Amontanhado de peças simbólicas. Torres, cavalos, reis, rainhas, bispos
e peões. Todos esculpidos em tocos de madeira.
Embora a ambos eu pudesse chamar de meninos um dos
jogadores era mais moço. E contemplava o front silencioso. Desenhava as ações
do exército branco. O outro se deixando sorrir liderava a marcha do exército
preto.
Num princípio furioso os cavalos negros punham seus
cascos avante. Com semelhante ímpeto, os peões avançavam pesadamente formando
um escudo sólido. Na retaguarda a rainha preta aguardava o momento mais
propício. Enquanto torres e bispos saltavam longe. Como mísseis modernos e
teleguiados.
O exército branco encolhia-se. E seu líder
mordia-se temeroso. Entretanto pensava. As possibilidades do ataque preto eram
incríveis. À observação do massacre o líder menino sorriu mais.
Desconcentrando-se em sua própria vaidade.
Deslembrou da retaguarda. Sorriu para quem o
elogiava. E foi através de seu sorriso que o adversário encontrou um bispo
esquecido ao canto esquerdo. Lançando-lhe as patadas de seu cavalo albino. As
tijoladas de suas torres supinas. O ódio vingativo de sua rainha mortífera. A
entrega kamikaze de seus peões
obedientes. A maldição de seus bispos ambiciosos.
O menino tinha seu sorriso destronado. Sua alegria
atolava na derrota. Seu rei, pomposo e imóvel, caía sem resistência. O cheque
mate tem o poder da dor enraivecida.
Rafael Alvarenga
Resende, 28 de agosto de 2012
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