sábado, 15 de setembro de 2012

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Jogadores de xadrez

 

Quando me aproximei eles já disputavam. O tabuleiro armado. Amontanhado de peças simbólicas. Torres, cavalos, reis, rainhas, bispos e peões. Todos esculpidos em tocos de madeira.

Embora a ambos eu pudesse chamar de meninos um dos jogadores era mais moço. E contemplava o front silencioso. Desenhava as ações do exército branco. O outro se deixando sorrir liderava a marcha do exército preto.

Num princípio furioso os cavalos negros punham seus cascos avante. Com semelhante ímpeto, os peões avançavam pesadamente formando um escudo sólido. Na retaguarda a rainha preta aguardava o momento mais propício. Enquanto torres e bispos saltavam longe. Como mísseis modernos e teleguiados.

O exército branco encolhia-se. E seu líder mordia-se temeroso. Entretanto pensava. As possibilidades do ataque preto eram incríveis. À observação do massacre o líder menino sorriu mais. Desconcentrando-se em sua própria vaidade.

Deslembrou da retaguarda. Sorriu para quem o elogiava. E foi através de seu sorriso que o adversário encontrou um bispo esquecido ao canto esquerdo. Lançando-lhe as patadas de seu cavalo albino. As tijoladas de suas torres supinas. O ódio vingativo de sua rainha mortífera. A entrega kamikaze de seus peões obedientes. A maldição de seus bispos ambiciosos.

O menino tinha seu sorriso destronado. Sua alegria atolava na derrota. Seu rei, pomposo e imóvel, caía sem resistência. O cheque mate tem o poder da dor enraivecida.

 

Rafael Alvarenga

Resende, 28 de agosto de 2012

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