sexta-feira, 28 de setembro de 2012


Solidão

A solidão não tem garganta. Nem cordas vocais. A solidão não fala. A solidão não tem dedos nem unhas. A solidão não me agarra. A solidão não tem pernas e pés. A solidão não anda ao meu lado. A solidão não tem ovário. Nem espermatozoides. A solidão não se reproduz.
A solidão não tem proteínas e vitaminas. Nem lipídeos e sais minerais. A solidão não alimenta. A solidão não tem nervo ciático. Nem medula espinhal. A solidão não sente. A solidão não tem evaporação. Nem formação de nuvens. A solidão não se precipita.
A solidão não tem giárdias. Nem lombrigas ou bactérias. A solidão não adoece. A solidão não tem adição. Nem multiplicação. A solidão não numera. A solidão não tem dias. Nem horas ou instantes. A solidão não tem tempo.
A solidão não é uma coisa. Nem tem uma coisa. A solidão é o nome do que é espaço vazio. Por isso, é através da solidão que vemos tudo que passa. É através da solidão que inventamos tudo que pode passar. Porque quando não há solidão, há algo. Uma existência a nos distrair de todo o resto.
Mas a solidão não é exatamente fonte.  A solidão não tem chafariz. Nem anjos e harpas. A solidão não tem coração.

Rafael Alvarenga
Resende, 26 de setembro de 2012

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