terça-feira, 18 de setembro de 2012

Imagem Escrita

Três casas

Sobraram três casas. E como de propósito, nelas tudo era de antes. Nas garagens fuscas; nos telhados antenas como espinhas de peixes; no entorno muros baixos; nos fundos um quintal cheio de guardados; na varanda uma samambaia despenteada.
De resto os prédios. Arrogantes e abusados. Dando as costas largas e lisas. Olhando o mar por cima. Mas desprovidos de uma cabeleira de telhas. Qual pudesse ser alisada pela brisa marinha. As casas riam. Pois os prédios moravam na beira mar, entretanto viviam quadrados. Usavam terno e gravata de concreto. E que adiantava sua altura grande se mesmo o gavião solitário que planava esbelto vinha pousar no telhado baixo e descaído das casas.
O problema era o quinhão de sol de cada uma; agora cada vez mais cortado e contado. Eu passeio pelas avenidas da cidade vendo os últimos exemplares dessa raridade da engenharia civil. Conheço pessoas que são do tempo delas. E que como elas andam desconfiadas. Por que a modernidade despreza seu jeito e espaço. E para ambos a velhice vem servindo para por em cheque a firmeza de seu alicerce. A profundidade e a capacidade de suas raízes.
Agora olho de cima essas três casas. Elas repousam sóbrias sobre esse bairro abastado. Porém tenho certeza, se as casas mais se assemelhassem a bichos que a árvores, ergueriam seus corpos, e com patas descalças caminhariam. Caminhariam muito até encontrar seu sítio.

Rafael Alvarenga
Niterói, 17 de setembro de 2012

Um comentário:

  1. Pois é meu caro Rafael, a minha (nossa) Resende está se tornando um "retrato" da sua bela crônica. Estão "destruindo" os nossos casarões dos tempos do café, a população impotente diante do "progresso" vê o nosso patrimônio histórico ser destruído e o poder público nada faz!Lamentável para nós Resendenses. Parabéns pelo texto.

    forte abraço,

    C@urosa

    ResponderExcluir