Meu
vagar
Nessas madrugadas saio para dentro de mim. Vagueio
por estradas de chão arterial. Piso nesse vermelho batido. Acendo uma poeira
ácida. São horas cheias da madrugada. Dos campanários de minhas torres torcidas
soa certa dor. Vou à margem de duodenos compridos. Hesito em cruzamentos nevrálgicos.
Não há sinal. Dentro de mim é uma cidade planejada. Obra de um futuro antigo.
Criação simbiótica de movimentos.
Avisto viadutos, pontes, tuneis. E a fluidez de mim
me apavora. Aqui está tudo. Os fantasmas vagueiam. E a santificação tem cor e
forma.
Vou aos becos cheios de pés descalços. Há vapores
em alguma junta. E linhas de todo tipo. Talvez nenhuma delas seja retilínea.
Tenho trópicos dentro de mim. Meu ocidente emagreceu. Meu oriente enegreceu. O
sol não está no meu umbigo. Dentro de mim não tenho hora. Ando por minhas
periferias descarnadas e pelancudas. Meu nariz entende os verdes biliáticos.
Meus olhos tateiam a molenguice de meus bairros de trabalhadores.
Chego a uma praça. Ampla. Com uma bela fonte de
água suja. Nela lavo minhas orelhas. E tudo vai ficando cristalino e
subnutrido. Logo a frente um bem feito sobrado. Dentro dele um coração bate. A
janela está aberta. A toalha branca esvoaçante pode ser o sinal. Ao lado a
aorta. Manjericão e estômago vazio.
Pego uma ventania pulmonar. Chovem goles d’água.
Procuro abrigo no quente de uma axila. Sou andejo em mim, por dentro e por
fora. Encosto e cochilo o sono d’agora.
Rafael Alvarenga
Resende, 25 de setembro de 2012
Pois é meu caro Rafael, que maravilha a sua crônica de hoje. Também adoro vagar pelas ruas da cidade e pelas entranhas da alma, será essa a dualidade corpo e alma...não sei!não sou do ramo! Mas que é bom é, o corpo fica leve e, realmente "chama" um soninho, um belo cochilo, valeu!
ResponderExcluirforte abraço
C@urosa