Três casas
Sobraram três casas. E como de propósito, nelas
tudo era de antes. Nas garagens fuscas; nos telhados antenas como espinhas de
peixes; no entorno muros baixos; nos fundos um quintal cheio de guardados; na
varanda uma samambaia despenteada.
De resto os prédios. Arrogantes e abusados. Dando
as costas largas e lisas. Olhando o mar por cima. Mas desprovidos de uma
cabeleira de telhas. Qual pudesse ser alisada pela brisa marinha. As casas
riam. Pois os prédios moravam na beira mar, entretanto viviam quadrados. Usavam
terno e gravata de concreto. E que adiantava sua altura grande se mesmo o
gavião solitário que planava esbelto vinha pousar no telhado baixo e descaído
das casas.
O problema era o quinhão de sol de cada uma; agora
cada vez mais cortado e contado. Eu passeio pelas avenidas da cidade vendo os
últimos exemplares dessa raridade da engenharia civil. Conheço pessoas que são
do tempo delas. E que como elas andam desconfiadas. Por que a modernidade
despreza seu jeito e espaço. E para ambos a velhice vem servindo para por em
cheque a firmeza de seu alicerce. A profundidade e a capacidade de suas raízes.
Agora olho de cima essas três casas. Elas repousam
sóbrias sobre esse bairro abastado. Porém tenho certeza, se as casas mais se
assemelhassem a bichos que a árvores, ergueriam seus corpos, e com patas
descalças caminhariam. Caminhariam muito até encontrar seu sítio.
Rafael Alvarenga
Niterói, 17 de setembro de 2012
Pois é meu caro Rafael, a minha (nossa) Resende está se tornando um "retrato" da sua bela crônica. Estão "destruindo" os nossos casarões dos tempos do café, a população impotente diante do "progresso" vê o nosso patrimônio histórico ser destruído e o poder público nada faz!Lamentável para nós Resendenses. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirforte abraço,
C@urosa