Cão vagabundo
Já
crescida a manhã corria pelas ruas. Com um calor grosso. Um sol seco e
poeirento.
Amarelo
e transeunte era o cão. As unhas compridas e encardidas. O focinho velho. Tão
metido já estivera em cercas e lixeiras. Seu uivo agudo é que era frio. Porque
tudo quanto é agudo é frio.
Nos
olhos aguados uma profundidade oceânica. No olhar escuro um vazio abissal.
Desses onde até duvidamos haver alguma coisa viva, no entanto onde não nos
atrevemos a mergulhar. Suportavam seus quartos as duas pilastras finas das
pernas traseiras.
Às
tantas da manhã correu um vento. Até então estava escondido no silêncio das
folhas dos abricós. Antes que escorregasse no ar o cão deu inicio ao trote
vagabundo.
As
orelhas dobradas em si mesmas. Escondendo o labirinto por onde só o som conhece
entrada e saída. A cauda enforcada. Sem função vital. Pronta a ser enterrada e
esquecida.
E o
cão, já disse, vagabundo. Leva sua tristeza magra e incorporada. Esconde na
língua arranhada o sal do seu suor. Procura entre o aqui e o acolá a doçura de
uma sobra, o refrescar de uma poça.
O
amanhã lhe está sempre muito próximo. Entretanto como não tem pretensão de
prevê-lo, vaga pelo agora. E abunda-se do que tiver.
Rafael Alvarenga
Resende, 06 de setembro de 2012
Belo crônica meu caro Rafael Alvarenga, rapaz,tô tão triste com a educação que às vezes fico parecido com um cão vagabundo, perdido nesse "sistema educacional" maludo...triste, lamentável!
ResponderExcluirforte abraço
c@urosa