domingo, 28 de outubro de 2012

Reencontro


Reencontro

Quanto tempo já faz. Lembro-me de segurá-la na mão. Não posso esquecer também do dia quando juntos saímos a lhe procurar um lugar. Claro, ela vinha crescendo. E nosso caso, em algum momento havia mesmo de terminar. Não foi fácil para mim. Eu era impávido. Contudo, por sorte, naquele dia choveu. E as lágrimas que me amoleciam esconderam-se entre os pingos do céu.

Depois, naturalmente, ela ganhou corpo. Chamou a atenção de passantes e cantantes. Sabia que alguns se aninhavam em seus braços firmes. Ao vento ela esvoaçava-se. Mas eu evitava passar próximo a seu perfume. Não sei o que me viria à cabeça caso encontrasse alguém trepado nela. Ou desrespeitosamente urinando a seus olhos.

Nunca lhe esquecera. Por isso, em virtude de minhas contas, sabia de suas épocas. E pelo tempo margeava-lhe a maturescência. E eu que mesmo apaixonado como sempre fora, nunca tivera a oportunidade de vê-la nua em flor. Paixão de menino talvez. Entretanto eu já era homem.

Resolvi procurá-la. Ela não mudara de endereço. Meu coração batia forte. Fiz o caminho mais longo. Talvez a fim de cansar-me a mim mesmo.

Quando cheguei ela estava só. Linda. Rechonchuda de frutos vermelhos. E de braços abertos como se me reconhecesse. Minha aceroleira! Quanto tempo desde o dia em que lhe plantei!

 

Rafael Alvarenga
Resende, 17 de outubro de 2012

Um comentário:

  1. Minha surpresa era só por causa da "urina" e "alguém trepado nela"... mas resolvi esquecer estes pequenos detalhes... e já estava com uma linda música ao fundo, talvez "eu voltei... de Roberto Carlos", já entrevia beijos saudosos e abraços... de amor criança... de menino e menina...kkkkkk
    E adoreiii... Parabéns!
    Passei para conhecer e me encantei.
    Tenha um lindo domingo,
    Abraços,
    Johanna.

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